Início...
Eu e o Alexandre criamos esse blog para um trabalho de Informática. Somos alunos de Comunicação Social, do 1º período. Eu estudo Jornalismo e ele, Cinema. Procuraremos abordar notícias do mundo do cinema que consideramos relevantes - portanto, se você espera saber sobre o novo filme de Hillary Duff ou High School Music 8, está no lugar errado. Falaremos, também, sobre filmes(obv!) e seriados - novamente, se espera encontrar comentários sobre One Tree Hill ou The O.C., está no lugar errado.
Pra começar, vou publicar um texto antigo que fiz sobre o meu diretor predileto: Woody Allen.
Allen Stewart Konigsberg: diretor, ator, escritor; baixinho, narigudo, franzino e apático, já se consagra uma lenda; um símbolo de inveja na indústria cinematográfica, e que não será facilmente esquecido. Na verdade, NUNCA será esquecido. Com uma filmografia de mais de 40 filmes, dentre eles, 10 obras-primas(no mínimo), nas quais algumas falarei adiante - sem contar nos seus mais de 50 roteiros filmados. Roteiros estes, SEMPRE originais, e óbvio com suas características principais sempre presentes: personagens neuróticos e nervosos, judeus intelectuais, canalhas e fracassados, e o amor que ele sente pela figura feminina, tudo isso aliado sempre a uma idéia madura e a psicanálise. O grande trunfo de Allen não está na estética do filme, mas na sua capacidade de desenvolver uma história e no seu domínio da técnica narrativa e, de quebra, é um excelente diretor de atores. Mesmo com altos e baixos na carreira, Woody Allen se tornou um diretor que hoje pode dar uma cagada com uma bomba, mas mesmo assim não podemos falar nada, queiram ou não. Mas quem pensa que Allen se atém apenas ao sarcasmo e ironia com que constrói seus personagens, está redondamente enganado: ele não só é dono de um drama autoral claramente inspirado em um de seus diretores favoritos, Ingmar Bergman, como possui uma característica que também contribuiu para o sucesso de alguns de seus filme, o de conduzir um drama nada dramático, por assim dizer. (Considero o ápice da Tragicomédia
Woodyalliana seu filme Melinda e Melinda).
Agora, farei uma rápida análise de alguns de seus filmes, os que eu julgo mais importante, e se eu esquecer de algum, peço perdão.
1972 - Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo de Perguntar (Everything You Always Wanted to Know About Sex But Were Afraid to Ask)Um filme nada comum, que conta várias histórias(com temas como O Que é Sodomia? e Os Afrodisíacos funcionam?) com um timing cômico adaptadas do livro de um terapeuta sexual. Essa obra é muito importante pra quem quer conhecer um pouco do sarcasmo e da irônia explorada pelos personagens
woodyallianos em um filme altamente hilário. Num todo, não é o melhor trabalho de Allen, devido a 2 fracos episódios: o 1° e o 3°. Mas com um elenco de primeira(Gene Wilder, Burt Reynolds, Anthony Quayle, Lynn Redgrave) e uma fanstática trilha sonora composta de jazz, o filme nada deixa a desejar e ainda conta com um final antológico.
1977 - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall)Sem dúvida, um dos filmes mais importante da carreira do diretor e um dos melhores. Cheio de humor ácido e diálogos afiadíssimos, vemos claramente expostas, nesse filme, suas características neuróticas de forma nua e crua, e os intelectualóides nova-iorquinos estereotipado nos personagens do filme . Em suma, é um filme que tem como pano de fundo uma análise sobre os relacionamentos modernos, o quanto nós suportamos e as consequências por estes provacadas. Impossível não se identificar com a atuação inquieta de Alvy ou com o amadurecimento de Annie durante sua trajetória.
1978 - Interiores (Interiors)Interiores é um grande marco na carreira de Woody Allen, certamente por ser o filme mais profundo e mais denso do diretor, além de ser o seu primeiro filme com características Bergmanianas. O ponto principal desse filme não são aqueles diálogos inesquecíveis de sempre, mas sim os closes no rostos do personagens. O primeiro-plano na face de um personagem é a porta de entrada para a alma, e é como se consegue captar o sentimento mais recôndito ali presente. É transmitir o dito pelo não dito. Nessa obra não há os personagens com a verborragia de sempre, é um filme de silêncio, de rostos, de personagens interiores.
1979 - Manhattan (Manhattan)Mesmo sendo sucesso de crítica, graças a excelente linguagem filmica, a maravilhosa trilha sonora e grande estilo na direção junto com uma fotografia primorosa em P&B, Allen não suporta esse filme. Em Annie Hall onde tinhamos uma análise com um tom humorístico sobre um relacionamento conturbado, aqui também temos uma análise sobre relacionamento parecido, mas dessa vez com um tom malicioso e nostálgico, sempre intrigante.
1988 - A Outra (Another Woman)Junto com Interiores e Setembro, Allen completa com este As Outras uma "trilogia" de filmes profundamente filosóficos e densos, e com características Bergmanianas. Um filme intimista que tem como personagem principal uma escritora se muda pra um apartamento e descobre que pode ouvir as vozes dos vizinhos. É aí que a personagem começa a "se conhecer" e descobrir seus medos e inseguranças.
1995 - Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite)O franzino de volta a ativa com mais uma comédia absurda e verborrágica, com piadas mais ácidas como de costume e problemas que envolvem relacionamentos, de leve. Aqui temos Mira Sorvino em uma grande e hilária atuação que combina justamente com o clima do filme que tem até um coro grego que é responsável por maior parte das piadas.
1997 - Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry)Esse filme, junto com Ponto Final - Match Point, julgo os melhores da carreira de Allen. Mais escrachado e desbocado do que nunca, esse roteiro se torna o mais divertido de toda sua carreira. E ainda consegue fazer pequenas reflexões sobre a morte, por exemplo. Uma verdadeira crítica não só de seus mais de 10 personagens como, principalmente, ao próprio Allen, que é o "alvo" do filme.
E agora, os meus dois filmes prediletos do diretor(coincidemente ou não, ambos do mesmo ano):
2005 - Melinda e Melinda (Melinda and Melinda)A tragicomédia é o gênero(tema, como preferir) que mais permeia os filmes de Allen. E é em Melinda e Melinda que ele explora até o fim esse tema. O filme começa numa mesa de bar com 4 pessoas conversando, onde 2 delas escrevem peças: um escreve peças trágicas, e o outro, cômicas. O escritor cômico diz que "não há nada engraçado sobre a terrível existência humana", e o escritor trágico discorda dizendo que "os filósofos a consideram [a afirmação] absurda porque, no final, o que podemos fazer é rir". E o "trágico" ainda pergunta "se isso que você diz é verdade, por que as minhas peças rendem menos que as suas ?", e o "cômico" responde "porque a tragédia confronta. E a comédia oferece uma fuga". E a partir daí, somos apresentados a Melinda, que está em 2 histórias diferentes, no mesmo filme: uma trágica, e uma cômica.
Esse filme tinha tudo pra ser um filme comum, clichê, uma simples comédia-romântica-dramática, e Allen o transforma num maravilhoso estudo de personagens, com uma incrível mensagem ao seu melhor estilo. O destino de Melinda, em ambas histórias, só faz confirmar mais ainda a teoria de que não são só os fatos em si que fazem uma estória, mas também - e principalmente - a maneira como você os encara. A grosso modo, tudo depende do ponto de vista: a desgraça de um, pode ser a felicidade de outro. Enquanto o escritor trágico vê um destino sofrido pra Melinda, o cômico pega a mesma Melinda e traça um destino feliz pra esta. E o genial é que a história trágica tem seus momentos cômicos, assim como a cômica consegue comover. Essa é a tragicomédia que é a vida. Mais trágica, ou mais cômica, depende exclusivamente de você, do modo como você deve encarar os fatos.
2005 - Ponto Final - Match Point (Match Point)O mais novo e genial trabalho do diretor que conta com um elenco de primeira e uma atuação estoneante de Scarlett Johanson. Desta vez Allen sai da tradicional Nova York e procura captar os encantos de Londres. O roteiro sem rodeios, e com referências a uma antiga e excelente obra do diretor, Crimes e Pecados, não quer saber de destino ou de acaso ou ainda de coincidências, logo no início do filme somos apresentados a seguinte conclusão: tudo na vida é questão de sorte. Aqui ele deixa de lado os estereotipos que tanto adora, e a única característica do diretor que permanece é no que diz respeito as questões de relacionamentos conturbados. E é o final surpreendente que faz desse filme uma obra completa de Woody Allen. A melhor, na minha opinião.
Finalizo aqui minha rápida análise sobre a carreira e alguns filmes desse gênio que é o Woody Allen, e queria poder falar muito mais de seus filmes, mas infelizmente não assisti nem a metade de sua filmografia, AINDA. E vão se acostumando porque eu falo pra cacete.
Postado por Carlos Calado!